Determinação do fator de retardamento da uranina em sedimentos quaternários do aquífero São Paulo
Resumo
A aplicação de substâncias fluorescentes como traçadores hidrogeológicos pode fornecer informações relevantes acerca da dinâmica das águas subterrâneas. Para um melhor controle na aplicação dos traçadores in situ, é pertinente definir possíveis interações dessas substâncias nos solos e sedimentos através de experimentos de bancada, a fim de prever seu comportamento durante a injeção no aquífero. O objetivo do trabalho corresponde à quantificação da adsorção e determinação do fator de retardamento do traçador fluorescente uranina em sedimentos quaternários da porção rasa do aquífero São Paulo. Os coeficientes de partição água/sedimento para uranina foram obtidos por meio de ensaios do tipo batch-test. Os experimentos consistiram em misturar sedimento orgânico, argiloso e grosso (arenoso) com soluções contendo uranina em cinco concentrações iniciais (5, 10, 50, 100 e 150 µg/L) em água deionizada e água do aquífero. Etapas de agitação, repouso e centrifugação precederam as medições de fluorescência. Através do ajuste de isotermas lineares, os valores do coeficiente de partição e fator de retardamento calculados para o sedimento grosso foram, respectivamente: 2,60x10-3 L/g ± 0,22x10-3 e 1,51 ± 0,13 (água deionizada), e 1,80x10-3 L/g ± 0,12x10-3 e 1,35 ± 0,09 (água do aquífero). Para o sedimento orgânico e argiloso, a fluorescência aparente gerada pelas partículas em suspensão nas soluções contendo uranina se sobrepôs à fluorescência real do traçador, impossibilitando a aferição dos coeficientes de partição e dos fatores de retardamento. Em meio sólido poroso com alto conteúdo de matéria orgânica e argilominerais, a uranina exibe alta susceptibilidade aos fenômenos de sorção. Contudo, sua utilização é indicada para a aferição de propriedades hidráulicas em aquíferos francamente quartzosos, uma vez nestes sedimentos a uranina apresentou um baixo fator de retardamento.
Referências
BORK, M.; LANGE, J.; GRAF-ROSENFELLNER, M.; LANG, F. Controls of fluorescent tracer retention by soils and sed-iments. Hydrology and Earth System Sciences, 24, p. 977-989, 2020. https://doi.org/10.5194/hess-24-977-2020
BOTTRELL, S. H.; THORNTON, S. F.; SPENCE, M. J.; ALL-SHORN, S.; SPENCE, K. H. Assessment of the use of fluo-rescent tracers in a contaminated Chalk aquifer. Quarter-ly Journal of Engineering Geology and Hydrogeology, v. 43, n. 2, p. 195–206, 2010.
https://doi.org/10.1144/1470-9236/08-020
CAO, V.; SCHAFFER, M.; TAHERDANGKOO, R.; LICHA, T. Solute Reactive Tracers for Hydrogeological Applica-tions: A Short Review and Future Prospects. Water. v. 12, n. 3, p. 653, 2020.
https://doi.org/10.3390/w12030653
DIVINE, C.E.; MCDONNELL, J.J. The future of applied trac-ers in hydrogeology. Hydrogeology Journal, 13, p. 255-258, 2005. https://doi.org/10.1007/s10040-004-0416-3
FERNANDES, A.J.; PERROTTA, M.M.; SALVADOR, E.D.; AZEVEDO, S.G.; GIMENEZ FILHO, A.; PAULON, N. Potencial dos aquíferos fraturados do Estado de São Paulo: condi-cionantes geológicos. Revista Águas Subterrâneas. v. 21, p. 63-84, 2007. https://doi.org/10.14295/ras.v21i1.16168
FIELD, M.S.; WILHELM, R.G.; QUINLAN, J.F.; ALEY, T.J. An assessment of the potential adverse properties of fluo-rescent tracer dyes used for groundwater tracing. Envi-ron. Monit. Assess, v. 38, p. 75-97, 1995. https://doi.org/10.1007/BF00547128
GOMBERT, P.; BIAUDET, H.; DE SEZE, R.; PANDARD, P.; CARRÉ, J. Toxicity of fluorescent tracers and their degra-dation byproducts. International Journal of Speleology. V. 46, p. 1, p. 23-31, 2017. https://doi.org/10.5038/1827-806X.46.1.1995
HASUI, Y.; CARNEIRO, C.D.R.; COIMBRA, A.M. The Ribeira Folded Belt. Revista Brasileira de Geociências, v. 5, n. 4, p. 257-266, 1975. https://doi.org/10.25249/0375-7536.1975257266
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – IPT. Investigação detalhada, avaliação de risco à saúde humana e plano de intervenção – área da UTM-Jaguaré, no bairro Jaguaré, São Paulo-SP. 2017.
JANASI, V.A.; ULBRICH, H.H.G.J. Late Proterozoic granitoid magmatism in the state of São Paulo, southeastern Brazil. Precambrian Research, v. 51, n. 1, p. 351- 374, 1991.https://doi.org/10.1016/0301-9268(91)90108-M
JULIANI, C. Geologia, petrogênese e aspectos metalo-genéticos dos grupos Serra do Itaberaba e São Roque na região das Serras do Itaberaba e da Pedra Branca, NE da Cidade de São Paulo, SP. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 1993.
KASS, W. Geohydrologische markierungstechnik. Ge-bruder Bornstraeger. Berlin/ Stuttgart, 1998. 581 p.
LEIBUNDGUT, C.; MALOSZEWSKI, P.; KÜLLS, C. Tracers in Hydrology. John Wiley e Sons, Ltd. 2009. https://doi.org/10.1002/9780470747148
LEIBUNDGUT, C.; SEIBERT, J. Tracer Hydrology Volume 2: the science of hydrology. Elsevier Science. p. 215-236, 2011. https://doi.org/10.1016/B978-0-444-53199-5.00036-1
PONSIN, V.; CHABLAIS, A.; DUMONT, J.; RADAKOVITCH, O.; E HÖHENER, P. 222 Rn as Natural Tracer for LNAPL Re-covery in a Crude Oil-Contaminated Aquifer. Groundwa-ter Monitoring e Remediation, v. 35, n. 2, p. 30–38, 2015. https://doi.org/10.1111/gwmr.12091
RIBEIRO, C.B.M. Sistema de alerta ambiental fundamen-tado em estudo teórico-experimental de transporte e dispersão de poluentes solúveis em cursos d’água. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil, 2007.
RICCOMINI, C. O Rift continental do sudeste do Brasil. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências, Universida-de de São Paulo, São Paulo, Brasil. 1990.
RICCOMINI, C.; SANT’ANNA, L.G.; FERRARI, A.L. Evolução geológica do rift continental do sudeste do Brasil. In: Geologia do continente Sul-Americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. p. 383–405, 2004.
ROCHA, G.A. Mapa de águas subterrâneas do Estado de São Paulo. Escala 1:1.000.000. Nota explicativa. São Paulo. DAEE-Departamento de Águas e Energia Elétrica; IG- Instituto Geológico; IPT-Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas; CPRM-Serviço Geológico do Brasil, 2005.
RODRIGUEZ, S.K. Geologia urbana da região metropoli-tana de São Paulo. Tese (Doutorado) - Instituto de Geo-ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 1998.
SABATINI, D. A.; AUSTIN, T. Characteristics of rhodamine WT and fluorescein as adsorbing ground-water tracers. Groundwater, v. 29, n. 3, p. 341–349, 1991. https://doi.org/10.1111/j.1745-584.1991.tb00524.x
SILVA, L.L.; DONNICI, C.L.; AYALA, J.D.; FREITAS, C.H.; MO-REIRA, R.M.; PINTO, A.M.F. Traçadores: o uso de agentes químicos para estudos hidrológicos, ambientais, petro-químicos e biológicos. Química Nova. v. 32, n. 6, p. 1576-1585, 2009. https://doi.org/10.1590/S0100-40422009000600042
SMART, P.L.; LAIDLAW, I.M.S. An evaluation of some fluo-rescent dyes for water tracing. Water Resources Rese-arch, v. 13, p. 15–32, 1977. https://doi.org/10.1029/WR013i001p00015
SUHOGUSOFF, A. V.; HIRATA, R.; FERRARI L. C. K. M. Ad-sorção do traçador fluorescente uranina em sedimentos quaternários da Bacia de São Paulo. Revista Brasileira de Geociências, v. 35, p. 551-558, 2005. https://doi.org/10.25249/0375-536.200537551558
TAKIYA, H. Estudo da sedimentação Neogênico-Quaternário no município de São Paulo: caracterização dos depósitos e suas implicações na geologia urbana. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências, Universida-de de São Paulo, São Paulo, Brasil, 1997.
TRUDGILL, S.T. Soil water dye tracing with special refer-ence to the use of rhodamine WT, lissamine FF, and amino G acid. Hydrological Processes. 1, 149-170, 1987. https://doi.org/10.1002/hyp.3360010204
TURNER DESIGNS. TD-700. Laboratory Fluorometer Operating Manual. 2002. Disponível em: http://docs.turnerdesigns.com/t2/doc/manuals/7000-998.pdf. Acesso em: 16 jan. 2021.
WILSON JR, J. F.; COBB, E. D.; KILPATRICK, F. A. Tech-niques of water-resourses investigations of the United States Geological Survey. Fluorometric Procedures for Dye Tracing. Book 3 – Applications of Hydraulics. U. S. Geological Survey. 34 p, 1986.
ZHENG, C. MT3D: a modular three–dimensional transport model for simulation of advection, dispersion and chemical reactions of contaminants in groundwater systems. The United States Environmental Protection Agency. Ada, Oklahoma.163p, 1990.