Um atípico modelo de acumulação de água subterrânea em terrenos cristalinos no semiárido: bolsão de intemperismo
Resumen
A locação de poços em terrenos cristalinos localizados em região de clima semiárido obedece geralmente a dois modelos de acumulação de água subterrânea: o primeiro, tradicional, denominado de riacho-fenda, que associa drenagens estruturalmente controladas às feições frágeis; e o segundo, chamado de calha elúvio-aluvionar, que associa drenagens estruturalmente controladas às feições dúcteis. Ambos apresentam casos de sucesso em locações; porém, geralmente, resultam em poços com vazões relativamente baixas, da ordem de 2 a 3 m3/h. Na região da Lagoa do Bom Pasto, município de Serrinha, RN, local de substrato cristalino inserido em clima semiárido, há um histórico de poços perfurados desde a década de 1980 com vazões anomalamente elevadas, da ordem de 9 a 12 m3/h, com caso excepcional de 51,4 m3h, ao longo de uma estrutura diagnosticada em campo como riacho-fenda. Diante das vazões incomuns dos poços ali perfurados perante as características geológicas e climáticas do local, a área tornou-se propícia à idealização de um modelo atípico de armazenamento de água subterrânea no meio fissural em clima semiárido. Para tanto, foi empregado o método geoelétrico integrado a técnicas geológicas de análise estrutural e de feições geomorfológicas do terreno permitindo identificar uma zona de alta condutividade ao longo de descontinuidades de natureza dúctil, denominado bolsão de intemperismo, conectado em subsuperfície ao modelo riacho-fenda. Este modelo, provavelmente não considerado durante o trabalho de locação, caracteriza-se, em profundidade, pela existência de uma pseudo permo-porosidade secundária gerada pela ação do intemperismo ao longo das anisotropias que compõem o bandamento gnáissico, capaz de incrementar positivamente a capacidade do reservatório de água subterrânea, subsidiando uma explicação alternativa para a ocorrência das vazões explotáveis anômalas locais.
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